quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Samba de uma nota só

 Bento sonda muito dentro de si. O cenário fica por conta do estado psicológico que vai delineando sua realidade. Certo dia, sondou um lugar que estava desesperadamente tentando escapar; é que Bento não suporta suas frustrações.
Enquanto não consegue se equilibrar, vislumbra os outros estados psicológicos, sempre entre confusões e fantasmas. Sabe bem que, dentro dele, existe a sala de armas. Ainda não a encontrou.
Mas vê guerreiros a se exercitar enquanto não se põe a lutar. Ele ainda possui uma trilha sonora de: mas...mas..mas...

quarta-feira, 24 de julho de 2013

O Obreiro

 Do decimo quarto andar, recostado no parapeito da janela,  Bento se põe a perguntar. As árvores, coitadas, fazem malabarismo para caberem entre prédios.O solo sem saber se é selva ou se pedra. No entremeio, as   ruas recortadas e mal traçadas como a palma da mão. Seria a semelhança mais uma vez extrapolando o entendimento?
E o que dizer dos carros nas recortadas ruas,   Parecem brinquedos num chão desenhado. Engana o aparentar inofensivo.
É mato brotando do asfalto, é o  arrancar  o coro da terra até marcar território. Afinal,  não é para isto que dedicamos a  existência?
E o que dizer dos estouros e explosões da cidade lembrando cenário de guerra. Mas o homem finge não se importar, Está munido com sua  tarja preta, agora nada mais o aflige. No domingo,  pensa descansar. Enfim, a primeira impressão é a que fica,  Deus descansou no domingo.



sexta-feira, 19 de julho de 2013

Boniteza

Lá na terra do sol,  foi ver padre dizer missa
Onde o vento chega fazendo carinho...vento calminho...
A igreja era simples
Foi levada, convidada de uma senhora por nome Severina
 Ela pegou  sua mão como quem conduz uma criança
Foi protegida e querida ver o padre dizer missa
Missa mesmo é nada! Viu foi o quadro mais lindo, num sabe?
Por detrás  do padre,  uma abertura feito um portal,  tal era o buraco na parede
 Dentro do portal o encontro dos coqueirais, balançavam feito balanço na mão de criança
Até hoje chega a lembrança tamanha a natureza



quarta-feira, 17 de julho de 2013

Recado

De repente a caixinha do que já fora se soltou
Abriu-se em duas partes
Caindo de dentro dela uma chuva de corações picadinhos de todos os tamanhos

De lápis, estava escrito: e sonhar com quão doce a vida pode ser!


Piscar de Olhos

E tudo lhe pareceu uma grande fábrica a todo vapor...
 trânsito
 crianças na escola
 catadores de papel
 homens de gravatas
 hospitais
 cemitérios
 os produtos que saem de linha.



quarta-feira, 10 de julho de 2013

Aceso



Tudo  cheirava novo para o recém  chegado. O falar cantado daquela   gente denunciava o não pertencimento, sentimento que ele levava estampado na cara, mesmo sendo esta, a língua pátria. Era  Somente ele e  os barulhos da cidade,  todos estrangeiros. A porta não batia igual, os ruídos dos sapatos não lhe pareciam um caminhar corriqueiro, os sons das crianças no  brincar diário,   nada lhe parecia com o que costumava sentir. Ficou horas na beira da janela como se  espreitasse  de tocaia as pessoas na rua.

Não era só um olhar diferente diante de tudo, mais que isso, era um recear algo... ele precisava se adaptar, codificar o silêncio daquela cidade, entender nas entrelinhas. Se adaptar representava achar a chave certa da porta ou, conduzir a partner num bailado certeiro dos movimentos da saia revelando seu molde.  Pura  arte . Mas ele precisaria de tempo, muito tempo para pertencer. O  Hoje, era só  ver,  cheirar,   tocar. Verbalizar, somente o necessário.


sábado, 22 de junho de 2013

Clarear

Do lado de dentro há um vazio cheio de coisas. Tudo estático.
Uma cama, um cabideiro, o armário e a janela que permanece fechada.
Nenhum barulho, o ar parece estar rarefeito.
De repente,  um suspiro profundo entra dilacerando as  narinas. Como soda cáustica,  corroe toda a morte.
Agora tudo está diferente, ele sente um frio que não sabia que existia. Agora, ele  está do lado de fora . As plantas se exibem como se se  entregassem ao vento. Elas balançam para dizer:  estamos todas vivas!!! Tudo tem barulho próprio, as coisas se soltam e caem pelo ar

E as pessoas? Ah!, as pessoas foram as  que mais lhe doeram nesse suspiro profundo. Foi  só abrir uma janela, uma porta...


sexta-feira, 21 de junho de 2013

Tradição

O canto entoou forte!
José arregalou os olhos como se acordasse de um sonho.
Por algum motivo não queria ouvir o canto.
Mas era forte!
- Papagaios!!!
Ao canto,  foram se juntando  outras vozes e a    identificação foi imediata:
- é  o Miro!,  Junto com  a  Martinha ! - Seu Pedro!!
O canto havia se transformado em pessoas.
No terreiro é assim  também, vozes são pessoas!
 José ainda é muito menino e,  lá do morro, desenha no céu com seu papagaio tricolor as  letrinhas do canto amoroso da música entoada lá de cima!

Será sina?





sábado, 15 de junho de 2013

Presente!!!






O tempo passou e ele emudeceu
Alguém disse: está morto, acabado, letárgico!
Não. Apenas lágrima!  Pois essa não é a sua outra face? Letargia seria sério e definitivo demais. Afinal, ele nunca avisa quando vai APARECER.









sexta-feira, 14 de junho de 2013

O reconhecimento

Abri a porta abruptamente. Ele sentiu minha presença. ficou  surpreso,  se mostrou desconsertado. Não trocamos nem um aceno, nenhum contato visual, embora nós dois soubéssemos que a palavra verbo entre nós era  há.




domingo, 9 de junho de 2013

Ideia de Criança

Adinha já contava  seus sete anos de idade e já tinha uma porção  de coisas para fazer. Ia para escola pela manhã, a tarde para as aulas de inglês, a noite para o balé  além de fazer o para casa e  brincar com seus amiguinhos no condomínio onde morava.
Mas, na cabeça de Adinha havia uma preocupação; ela acreditava que o mundo era uma enorme caixa e que os dias e as noites eram imensos panos coloridos colocados por um gigante. Adinha não se conformava por nunca acertar a hora em que o gigante chegava para trocar as cores do pano. E, todos os dias, ela se perguntava - Será que este gigante não tem outros panos para fechar e abrir a caixa do mundo? - Todo dia a mesma coisa! -  E, além do mais, o pano da noite já está tão vellhinho, cheio de furinhos que daqui de baixo dá pra ver a luz dos buraquinhos do pano.
A menina acreditava que as estrelas eram os furinhos do pano velho do gigante. Ás vezes ela tentava chegar  até a janela para quando  o gigante chegasse, o surpreendesse   com a boca na butija! Mas, isso nunca aconteceu.
O tempo foi passando e Adinha foi ficando cada vez mais sabida e se esqueceu do gigante.  Mas o que ela não contava é que em seus sonhos continuava fazendo perguntas sobre a caixa do mundo e procurando respostas que agora,  eram mais importantes para ela.
Bem,  não poderei saber  se a curiosidade da pequena  a fará se lembrar de quando era criança, mas espero que o espírito curioso de Adinha apareça novamente,  com novas histórias , talvez nos meus sonhos  e prometo que as contarei para vocês.




quinta-feira, 6 de junho de 2013

O Fio

Lá no alto as corajosas passistas com suas sapatilhas enfeitadas arriscam na corda a primeira passada. Corpinhos esguios para não titubear! Um passo, dois, três e o olhar no horizonte.  Sempre em frente atravessam o fio dançante, faca de dois gumes.
Passistas, sapatilhas e corda acordam o público que aguarda estupefato a travessia insana do equilíbrio...





sábado, 1 de junho de 2013

Mundo Paralelo

Cidade misteriosa, onde o cenário antigo e suntuoso arrastava uma multidão que clamava um coro palavras que  eu não entendia, mas mesmo assim não conseguia deixar de me entregar aquelas vozes.
Parecíamos perdidos,  vagávamos procurando algo. Uma legião de homens com vestidos longos e velas nas mãos comandava a multidão nas ruas. Mulheres assustadoras com um jeito de gente infeliz,  cobriam seus rostos com véus de renda preta. Murmuravam, se lamentavam, pediam perdão. Finalmente eu percebi. O tempo parara  e  o céu ficara entre o anoitecer e o amanhecer. Estávamos presos ali. Todos os castelos com suas portas abertas e, lá de dentro, saiam milhares de pessoas assustadoras. Algumas armadas com bandeiras, estátuas e  uma bolsa que parecia de metal de  onde saía uma fumaça com um cheiro estranho. Acho que iam para a guerra!
Eu, particularmente me sentia bem, mesmo sem palavras caminhava entre a multidão. Posto que, como o tempo estava preso aquela cena, eu estava presa a um corpinho de sete anos e só me restava ser livre para imaginar que igrejas eram castelos, que beatas pareciam assustadoras e que viajar com minha avô para Aparecida do Norte em tempo de romaria poderia ser uma experiência intrigante.







segunda-feira, 27 de maio de 2013

Movimento

Foi num piscar de olhos que ele desapareceu. Mas, eu o vi. Parecia suspenso por um fio transparente. Era negro e traçava um céu só seu. Em seu jogo de esconde, enganava meus olhos. Aparentava hora negro, hora prata, hora nada! Assim bailava o pássaro ilusionista em seu picadeiro infinito.



sexta-feira, 24 de maio de 2013

Canto

Havia uma reforma num dos apartamentos do prédio. Estava sozinho. No momento em  que o espírito se acalmou , ouviu-se  as marteladas de um pedreiro. Sentiu uma chamada e parou para escutar . Música? Oração? Uma chamada de atenção na percussão do martelo. Na mesma hora deu-se o  direito e fechou os olhos. E num gesto solene, num pequeno espaço de tempo, agradeceu a presença do anjo pedreiro e sua trombeta encantada.



A Plantação

    Era uma vez um mundo cheio de estradas. E nelas, muitas terras. As pessoas  nasciam com algumas sementes para cuidar. Perambulavam em busca de achar um lugar que fosse bom para se estabelecer.
   João era uma dessas pessoas buscadoras, que perambulava pelas estradas, dia após dia, noite após noite. Por onde passava, reparava que em algumas terras se plantava laranjas, em outras pêssegos e noutras uvas.
   Um dia João encontrou uma terra que o atraiu profundamente e decidiu que ali iria jogar suas sementes e esperar a resposta da terra. Mas, para surpresa de João nada aconteceu. Ele não conseguia entender, pois a terra que escolhera parecia fértil. Mas, quando João ia verificar, nada havia acontecido . Ele gostarva dali;  por isso dava tempo à terra. E lá ia ele, semeando suas sementes.
    Passou-se muito tempo e João sempre tentando. Um dia, chateado, resolveu andar um pouco, foi seguindo a estrada e parou  num lugar que jamais prestara atenção. Sem querer, caiu do bolso de João algumas sementes no chão e, perplexo, João viu nascer  lindos e saudáveis morangos.
Ele ficou muito assustado e voltou correndo para sua terra determinado a tentar novamente. Agora, já sabia que as sementes que possuía eram de morangos. Adubou  toda a terra mas, novamente nada acontecera.
   João ficou muito triste, pois a terra que escolhera para viver era improdutiva. E então,  se pós a chorar. Chorou durante dias sem parar,  até que exausto ficou em silêncio. E  dentro do silêncio João resolveu que deixaria aquele lugar, mesmo gostando profundamente dele. Se  mudou para a   terra que havia fecundado seus morangos.

Mas de lá, mesmo rodeado de morangos, João não conseguia se esquecer  daquela terra que havia escolhido. E sempre que tinha um tempinho corria para lá na esperança de acontecer um milagre. Mas, voltava sempre frustrado . Então sentiu-se muito cansado. E  dentro do cansaço, João entendeu tudo; que cada terra tem sua capacidade de fecundação, que talvez lá fosse lugar de nascer cajus, ou amoras, mas João era morango. Deste dia em diante deixou de ser teimoso, pois dentro da teimosia João ficava estéril.






domingo, 19 de maio de 2013

O Hóspede

O que é o amor?
O amor é algo invisível que fica entrando e saindo de dentro da gente
As vezes entra dentro de mim e de você. Mas sai de um, sem o outro perceber
Não dá pra cobrar sua presença
É aproveitar quando ele resolve nos visitar
E deixa-lo ir,  se assim ele se decidir!





sábado, 11 de maio de 2013

Os Pássaros

Os pássaros no céu retratam o movimento da vida; a mudança de cenário. O ser sozinho e o ser em grupo.
O pássaro se despede sem remorso e vai. Voa longe, se resolve e volta mais forte, mais experiente.
É didático ver como eles determinam como vai ser. Hora com você, hora com vocês, hora sem vocês.
O chão do pássaro é elástico e as regras claras.
É, eles são seres civilizados!



terça-feira, 7 de maio de 2013

A Cama

Espera todo santo dia honestamente o que há de mais humano. A carne santa e suja.
O que costuma a antropologia da cama?
Qual a sua vestimenta?
Quais são seus fatos?
Laqueados por debaixo dos panos.
Vê-se qual o tom da madeira?
É de lei?
O que costuma a antropologia da cama?
Carnívora ou vegetariana?


















quinta-feira, 18 de abril de 2013

Silêncio

Vejo casebres encrustados entre a montanha. Uma luz vermelha escapa das janelas.
  Parecem olhos a me observar. Estou na estrada. É noite fria, escura, nada de estrelas. Os olhos vermelhos de cansaço. Sinto cheiro de bolor e a presença da falta.



quarta-feira, 17 de abril de 2013

A Cadeira

Usada
Cineasta a cata
Confessional
Professoral
Não sei.
Nada!
Usada
 Codificadora do silêncio de quem?
 Finge que não tem memória!
- Será?










A Espera

Os chuviscos
São filhos das nuvens barrigudas
São crias...criar.. criaturas
Germinam a terra, dão de beber as flores, fortalecem os frutos
Chove, chuvisco
Chove aqui no meu quintal
Tem roseira, amendoeira, goiabeira,  jabuticabeira,  bem na beira de nascer
Chega mansinho com seu barulhinho
chaaa....!
_ de pressa quem tem roupa no varal!!!






segunda-feira, 15 de abril de 2013

Caixa Livre!


Gostaria de poder respirar aliviada .Sair às ruas.
Conversar com as pessoas e não estar em crise.
Esticar as mãos e pegar o que for preciso. Agradecer e me despedir de tudo no momento em que virar as costas.
- Qual o valor da conta?






domingo, 14 de abril de 2013

Relógio do Sol


O azul das manhãs
-Se me perguntas? Digo. É o azul criança, ingênuo.

No início da tarde é um  azul mais crescidinho, mais colorido!
-Se me perguntas? Digo. É o azul adolescente.

No esplendor da tarde, que beleza o azul está em plena forma.
-Se me perguntas? Digo. É o azul maduro, adulto.

-E se me perguntares eu direi:
O azul envelheceu. Agora ele aguarda o momento que morte e nascimento se confundem dando ao azul uma nova oportunidade de nascer criança, de ser colorido,  se sentir adulto e  envelhecer.
Nesta história a semelhança não é mera coincidência.



sábado, 13 de abril de 2013

De Camarote

Abre a cortina.
 Não posso controlar quando quero contato e tudo funciona como internet.

Lá está meu passaporte. Agora posso estar em qualquer lugar. Grécia, França, Alemanha...

Grande. Fez  sombra em Cavaleiros andantes, Bruxas, Reis e Faraós. Assistiu aos colóquios de  Sócrates,   as  angústias de Shakespeare, a obstinação de  Mozart e até a Paixão de  Cristo!

Mambembe ambulante esconde mais segredos do que o homem poderia agüentar.

Se existe reencarnação??? Ah! A Lua já viu minhas mil caras.


- Uma Gueixa?

Fecha a cortina.
- De volta ao quarto.



Matiz

Verde verdadeiro
Verde Real
Acolhedora redoma medicinal
Verde para o bom ou verde para o mau?
Vá ver, de que é feito o verde!
Bem, então?
O réu é primário ou secundário?





quarta-feira, 10 de abril de 2013

Translação e Rotação

- Aquilo são nuvens?
- Não, placentas cumprindo seu papel.
- Então, estamos sendo gestados?
-??



Às Cinco e Quinze da Matina

O que é o que é?
É chegar e ter que decidir
É começo e fim no mesmo lugar
É se despedir
É se reencontrar
É esperar
É entrar e deixar acontecer
É mudar de lugar
É levar boas e más notícias
Transportar pressa
O que é o que é?
Metrô.




Cidade

Chegando da janela consigo captar o som que a cidade produz. São sons de carrinhos sob trilhos .Um circuito ininterrupto de montanha- russa. Os foguetes são para as manobras mais radicais, os pontos mais críticos do circuito.








Começo

Dançar sempre foi um veículo de celebração da vida para mim. Quando estou dançando,  saio de cena e deixo meu corpo conversar com o ambiente. Certo dia me peguei dançando de maneira que jamais percebera. De repente os movimentos foram tomando forma. A música interna começara...Entre uma ideia e outra nasciam passos e mais passos. Cada um com sua característica. Alguns, imitavam uma ginasta fazendo seu exercício de alongamento diário, outros bem pequenos e contidos. E foi Assim, participativamente, que  acompanhei o movimento de minhas  mãos  junto ao nascimento das palavras e me senti dançando.