quarta-feira, 24 de julho de 2013

O Obreiro

 Do decimo quarto andar, recostado no parapeito da janela,  Bento se põe a perguntar. As árvores, coitadas, fazem malabarismo para caberem entre prédios.O solo sem saber se é selva ou se pedra. No entremeio, as   ruas recortadas e mal traçadas como a palma da mão. Seria a semelhança mais uma vez extrapolando o entendimento?
E o que dizer dos carros nas recortadas ruas,   Parecem brinquedos num chão desenhado. Engana o aparentar inofensivo.
É mato brotando do asfalto, é o  arrancar  o coro da terra até marcar território. Afinal,  não é para isto que dedicamos a  existência?
E o que dizer dos estouros e explosões da cidade lembrando cenário de guerra. Mas o homem finge não se importar, Está munido com sua  tarja preta, agora nada mais o aflige. No domingo,  pensa descansar. Enfim, a primeira impressão é a que fica,  Deus descansou no domingo.



sexta-feira, 19 de julho de 2013

Boniteza

Lá na terra do sol,  foi ver padre dizer missa
Onde o vento chega fazendo carinho...vento calminho...
A igreja era simples
Foi levada, convidada de uma senhora por nome Severina
 Ela pegou  sua mão como quem conduz uma criança
Foi protegida e querida ver o padre dizer missa
Missa mesmo é nada! Viu foi o quadro mais lindo, num sabe?
Por detrás  do padre,  uma abertura feito um portal,  tal era o buraco na parede
 Dentro do portal o encontro dos coqueirais, balançavam feito balanço na mão de criança
Até hoje chega a lembrança tamanha a natureza



quarta-feira, 17 de julho de 2013

Recado

De repente a caixinha do que já fora se soltou
Abriu-se em duas partes
Caindo de dentro dela uma chuva de corações picadinhos de todos os tamanhos

De lápis, estava escrito: e sonhar com quão doce a vida pode ser!


Piscar de Olhos

E tudo lhe pareceu uma grande fábrica a todo vapor...
 trânsito
 crianças na escola
 catadores de papel
 homens de gravatas
 hospitais
 cemitérios
 os produtos que saem de linha.



quarta-feira, 10 de julho de 2013

Aceso



Tudo  cheirava novo para o recém  chegado. O falar cantado daquela   gente denunciava o não pertencimento, sentimento que ele levava estampado na cara, mesmo sendo esta, a língua pátria. Era  Somente ele e  os barulhos da cidade,  todos estrangeiros. A porta não batia igual, os ruídos dos sapatos não lhe pareciam um caminhar corriqueiro, os sons das crianças no  brincar diário,   nada lhe parecia com o que costumava sentir. Ficou horas na beira da janela como se  espreitasse  de tocaia as pessoas na rua.

Não era só um olhar diferente diante de tudo, mais que isso, era um recear algo... ele precisava se adaptar, codificar o silêncio daquela cidade, entender nas entrelinhas. Se adaptar representava achar a chave certa da porta ou, conduzir a partner num bailado certeiro dos movimentos da saia revelando seu molde.  Pura  arte . Mas ele precisaria de tempo, muito tempo para pertencer. O  Hoje, era só  ver,  cheirar,   tocar. Verbalizar, somente o necessário.