quarta-feira, 10 de julho de 2013

Aceso



Tudo  cheirava novo para o recém  chegado. O falar cantado daquela   gente denunciava o não pertencimento, sentimento que ele levava estampado na cara, mesmo sendo esta, a língua pátria. Era  Somente ele e  os barulhos da cidade,  todos estrangeiros. A porta não batia igual, os ruídos dos sapatos não lhe pareciam um caminhar corriqueiro, os sons das crianças no  brincar diário,   nada lhe parecia com o que costumava sentir. Ficou horas na beira da janela como se  espreitasse  de tocaia as pessoas na rua.

Não era só um olhar diferente diante de tudo, mais que isso, era um recear algo... ele precisava se adaptar, codificar o silêncio daquela cidade, entender nas entrelinhas. Se adaptar representava achar a chave certa da porta ou, conduzir a partner num bailado certeiro dos movimentos da saia revelando seu molde.  Pura  arte . Mas ele precisaria de tempo, muito tempo para pertencer. O  Hoje, era só  ver,  cheirar,   tocar. Verbalizar, somente o necessário.


Nenhum comentário:

Postar um comentário