sábado, 22 de junho de 2013

Clarear

Do lado de dentro há um vazio cheio de coisas. Tudo estático.
Uma cama, um cabideiro, o armário e a janela que permanece fechada.
Nenhum barulho, o ar parece estar rarefeito.
De repente,  um suspiro profundo entra dilacerando as  narinas. Como soda cáustica,  corroe toda a morte.
Agora tudo está diferente, ele sente um frio que não sabia que existia. Agora, ele  está do lado de fora . As plantas se exibem como se se  entregassem ao vento. Elas balançam para dizer:  estamos todas vivas!!! Tudo tem barulho próprio, as coisas se soltam e caem pelo ar

E as pessoas? Ah!, as pessoas foram as  que mais lhe doeram nesse suspiro profundo. Foi  só abrir uma janela, uma porta...


sexta-feira, 21 de junho de 2013

Tradição

O canto entoou forte!
José arregalou os olhos como se acordasse de um sonho.
Por algum motivo não queria ouvir o canto.
Mas era forte!
- Papagaios!!!
Ao canto,  foram se juntando  outras vozes e a    identificação foi imediata:
- é  o Miro!,  Junto com  a  Martinha ! - Seu Pedro!!
O canto havia se transformado em pessoas.
No terreiro é assim  também, vozes são pessoas!
 José ainda é muito menino e,  lá do morro, desenha no céu com seu papagaio tricolor as  letrinhas do canto amoroso da música entoada lá de cima!

Será sina?





sábado, 15 de junho de 2013

Presente!!!






O tempo passou e ele emudeceu
Alguém disse: está morto, acabado, letárgico!
Não. Apenas lágrima!  Pois essa não é a sua outra face? Letargia seria sério e definitivo demais. Afinal, ele nunca avisa quando vai APARECER.









sexta-feira, 14 de junho de 2013

O reconhecimento

Abri a porta abruptamente. Ele sentiu minha presença. ficou  surpreso,  se mostrou desconsertado. Não trocamos nem um aceno, nenhum contato visual, embora nós dois soubéssemos que a palavra verbo entre nós era  há.




domingo, 9 de junho de 2013

Ideia de Criança

Adinha já contava  seus sete anos de idade e já tinha uma porção  de coisas para fazer. Ia para escola pela manhã, a tarde para as aulas de inglês, a noite para o balé  além de fazer o para casa e  brincar com seus amiguinhos no condomínio onde morava.
Mas, na cabeça de Adinha havia uma preocupação; ela acreditava que o mundo era uma enorme caixa e que os dias e as noites eram imensos panos coloridos colocados por um gigante. Adinha não se conformava por nunca acertar a hora em que o gigante chegava para trocar as cores do pano. E, todos os dias, ela se perguntava - Será que este gigante não tem outros panos para fechar e abrir a caixa do mundo? - Todo dia a mesma coisa! -  E, além do mais, o pano da noite já está tão vellhinho, cheio de furinhos que daqui de baixo dá pra ver a luz dos buraquinhos do pano.
A menina acreditava que as estrelas eram os furinhos do pano velho do gigante. Ás vezes ela tentava chegar  até a janela para quando  o gigante chegasse, o surpreendesse   com a boca na butija! Mas, isso nunca aconteceu.
O tempo foi passando e Adinha foi ficando cada vez mais sabida e se esqueceu do gigante.  Mas o que ela não contava é que em seus sonhos continuava fazendo perguntas sobre a caixa do mundo e procurando respostas que agora,  eram mais importantes para ela.
Bem,  não poderei saber  se a curiosidade da pequena  a fará se lembrar de quando era criança, mas espero que o espírito curioso de Adinha apareça novamente,  com novas histórias , talvez nos meus sonhos  e prometo que as contarei para vocês.




quinta-feira, 6 de junho de 2013

O Fio

Lá no alto as corajosas passistas com suas sapatilhas enfeitadas arriscam na corda a primeira passada. Corpinhos esguios para não titubear! Um passo, dois, três e o olhar no horizonte.  Sempre em frente atravessam o fio dançante, faca de dois gumes.
Passistas, sapatilhas e corda acordam o público que aguarda estupefato a travessia insana do equilíbrio...





sábado, 1 de junho de 2013

Mundo Paralelo

Cidade misteriosa, onde o cenário antigo e suntuoso arrastava uma multidão que clamava um coro palavras que  eu não entendia, mas mesmo assim não conseguia deixar de me entregar aquelas vozes.
Parecíamos perdidos,  vagávamos procurando algo. Uma legião de homens com vestidos longos e velas nas mãos comandava a multidão nas ruas. Mulheres assustadoras com um jeito de gente infeliz,  cobriam seus rostos com véus de renda preta. Murmuravam, se lamentavam, pediam perdão. Finalmente eu percebi. O tempo parara  e  o céu ficara entre o anoitecer e o amanhecer. Estávamos presos ali. Todos os castelos com suas portas abertas e, lá de dentro, saiam milhares de pessoas assustadoras. Algumas armadas com bandeiras, estátuas e  uma bolsa que parecia de metal de  onde saía uma fumaça com um cheiro estranho. Acho que iam para a guerra!
Eu, particularmente me sentia bem, mesmo sem palavras caminhava entre a multidão. Posto que, como o tempo estava preso aquela cena, eu estava presa a um corpinho de sete anos e só me restava ser livre para imaginar que igrejas eram castelos, que beatas pareciam assustadoras e que viajar com minha avô para Aparecida do Norte em tempo de romaria poderia ser uma experiência intrigante.